Por: Raphael de Jesus
Clientes são o entretenimento do publicitário. Gargalhadas histéricas inundaram o ambiente da agência Delta quando seus funcionários se depararam com o Briefing do Cuore Sex Shop. Afinal, não é todo dia que se pode trabalhar para alguém cujo ofício envolve, em suma, o sexo, e isso pode gerar todo tipo de reação, do constrangimento à curiosidade mórbida.
Entretanto, a reação hiperbólica não se dera somente pela natureza do trabalho da contratante, mas também por sua demanda: um outdoor, anunciando que distribuiria máscaras para que a clientela pudesse frequentar o local com total discrição; e que, nas palavras da cliente, deveria ser “bem grande e chamativo”.
“E o que seria bem grande e chamativo?” Perguntou Atílio, o diretor de arte, aos risos. Os publicitários passaram o terço de hora seguinte em meio à piadas e ideias divertidas para ilustrar a campanha.
Ao final da catarse coletiva, a equipe entrou em ação. O pessoal do planejamento fez a pesquisa do perfil do público, a cotação do material, a logística da instalação e o conceito. Em seguida, despacharam para a redação e a arte elaborarem, respectivamente, o texto e a imagem.
O outdoor foi instalado na av. República Argentina, por onde passavam centenas de carros e transeuntes todos os dias. A peça, num degradê que ia do rubro ao carmesim, estampava o busto de uma modelo com olhar provocante sob a máscara negra, abraçando a própria nudez, e exibindo a seguinte chamada:
“Satisfação garantida! No Cuore Sex Shop você entra e sai usando máscara e encontra tudo o que precisa para sua noite ser inesquecível”.
O anúncio era tão indiscreto que os instaladores não puderam conter a gozação enquanto trabalhavam. Com o tempo, as pessoas começaram a tirar selfies em frente ao local e até mesmo um Fox se chocou com um Biarticulado, depois que seu condutor perdera o foco.
Outra consequência foi a reclamação do síndico de um condomínio nas imediações, que solicitou à Prefeitura a remoção da peça publicitária por atentado ao pudor. Muitos condôminos se queixaram de terem de ficar com as cortinas fechadas para não dar de cara com uma mulher seminua pela janela da sala de estar. Inclusive, dois divórcios ocorreram no período em que a ação estivera no ar.
Cedendo à pressão, o Prefeito, que gostava de mostrar serviço, emitiu um decreto proibindo o que ele chamava por “anúncios provocativos”. Isso foi o suficiente para despertar a fúria da sra. Rosângela Rodrigues, dona do estabelecimento, que entrou com uma ação pedindo a revogação da medida. O caso repercutiu na mídia, indo parar nos telejornais e na internet.
Mas apesar do imbróglio, a divulgação não poderia ter sido melhor. As vendas do sex shop triplicaram e a procura era tanta que as pessoas começaram a fazer fila do lado de fora da loja. Atenta a isso, a sra. Rodrigues comprou mesas e cadeiras, e fez café para agradar à freguesia, toda mascarada como mandava o figurino.
A partir de então ela não precisou mais se preocupar com a justiça, pois aos poucos sua lojinha se convertera em um pequeno café com temática picante. Todos os dias, casais aproveitavam o ponto de encontro para fazer happy hour e planejar o que fariam no decorrer da noite. Diziam que até mesmo o Prefeito e a Primeira Dama foram vistos por lá uma vez.
Assim, a Cuore saiu do anonimato e foi assunto entre os funcionários orgulhosos e galhofeiros da Delta por muito tempo, garantindo a descontração que faz das agências de publicidade ambientes muito agradáveis para trabalhar.
FIM
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