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Quando Carpeaux conheceu Kafka

Por: Raphael de Jesus,

Baseado no ensaio: "O Castelo de Franz Kafka", por: Otto Maria Carpeaux, em "As Obras-Primas que Poucos leram - Volume 1: Romance e Conto", org. Heloísa Seixas.


Somos testemunhas da história. Em meio às atribuições da vida podemos ser afetados pelos grandes acontecimentos de nosso tempo do mesmo modo que nossas ações se somam às de outras pessoas definindo o período. O que vivemos se tornará memória e será narrado por artistas e historiadores para as gerações futuras. Há entre essas pessoas alguns poucos que, além de testemunhas, são também protagonistas e podemos não perceber seu valor, tratando como fugidios momentos de imensa importância. Foi num desses momentos em que dois grandes escritores se encontraram: Otto Maria Carpeaux e Franz Kafka.

O ano era 1921 e Otto Maria Carpeaux, ainda Otto Karpfen, era um jovem estudante universitário sonhando com uma carreira literária. Nos anos 20, Berlim se tornara um centro de agitações culturais de todo tipo: do expressionismo ao vegetarianismo, bem como do dadaísmo ao comunismo - não à toa os americanos chamam esse período de “Roaring Twenties” e os brasileiros de “Os Loucos Anos Vinte”.

Na capital alemã havia o Café Românico, um ponto de encontro entre grandes escritores e artistas da época. Numa tarde, Carpeaux visitou o local, mas não se saiu bem: conheceu poucas pessoas entre os presentes e não conseguiu ter coragem para puxar assunto com uma belíssima atriz da época. Então, ele se retirou para um canto e se deparou com um rapaz franzino, magro, pálido e taciturno e, mal sabia o futuro crítico literário que estaria diante do pai da literatura moderna.

“Kauka”, ele se apresentou com uma voz embargada - que denunciaria sua morte por tuberculose da laringe, três anos depois. Sem entender, Carpeaux perguntou novamente qual era o seu nome e ele repetiu: “Kauka”. Limitou-se a apenas responder “Muito prazer” e isso foi tudo. Mais tarde, saindo do apartamento, ele perguntou a um amigo quem era o rapaz magro e com voz rouca e ele respondeu: “É de Praga. Publicou uns contos que ninguém entende. Não tem importância”.

Aquele rapaz escrevera estórias enigmáticas e fantasmagóricas, por vezes de grande ressentimento, fruto da má relação com o próprio pai. Tampouco conseguiu se casar.

Kafka mal sabia que se tornaria o pai da literatura moderna. E Carpeaux mal sabia que seria um daqueles que justificariam a existência do Brasil.

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